segunda-feira, 28 de maio de 2018

NOSSOS FILHOS, A TV E OS GAMES - O PERCURSO DA VIOLÊNCIA



Texto de Dario Junior escrito em 2004 para o Jornal Folha de Mandacaru, que circulou nos bairros de João Pessoa durante alguns anos.

Fomos todos pegos de surpresa, vocês perceberam? Não esperávamos que de um dia para o outro tivéssemos cenas tão chocantes de violência sendo exibidas nas nossas televisões. De repente, as novelas, filmes e telejornais, passaram a falar de violência como algo rotineiro e interessante de ser apreciado, um prato cheio, de crimes, tiros, assaltos, guerras, com ingredientes cada dia mais picantes e progressivamente sensacionalistas, querendo nos empurrar goela abaixo que é necessário vermos a realidade como ela é: crua, desumana, incompreensível e indomável...

Raramente temos a oportunidade de vermos algum crítico ou jornalista comentar tais crimes com qualquer raciocínio lúcido, que desvende no telespectador o entendimento de tais fatos, as origens e as motivações de tanta violência cometida às centenas, sempre com histórias diferentes e que desaparecem de um dia para o outro como por encanto, sem soluções, sem avisos, como um filme de suspense que não vale mais a pena voltar a assistir e que é melhor cair no esquecimento porque outros virão na sequência... 

Em face a isto, precisamos todos desesperadamente de um pouco de paz, não precisamos de guerra, essa guerra vendida aos quatro cantos do mundo como um produto de primeira necessidade, um banquete servido aos povos com requintes de violência e insanidade, alimentando nossos corações com a ira e a dúvida. 


Seguindo nessa linha de raciocínio, podemos entender o porque de subprodutos como os games ou jogos eletrônicos, portadores de uma violência inimaginável, sendo vendidos e oferecidos nas melhores prateleiras, inclusive de lojas infantis. A Violência dos games atuais para crianças, virou um caso de deseducação lenta e gradual, um verdadeiro atentado contra a infância universal e que trará consequências impensáveis na formação de toda uma geração. Esses games chegam às mãos das crianças sem passarem por uma análise  prévia, sem a avaliação de educadores, com a complacência ingênua dos pais cada dia mais ocupados em seus afazeres e das autoridades, cada ano menos atentas e permissivas. Uma tomada de consciência clama por todos nós. Não podemos passar desatentos por uma criança empunhando uma metralhadora de última geração num shopping qualquer da cidade. Às vitimas, com certeza, seremos todos nós.
  *Os textos e fotos de Dario Junior estão licenciados pela Creative Commons. Qualquer utilização,  será possível com a autorização prévia do autor, que deverá ser consultado.

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PARA QUE SERVEM MESMO OS FESTIVAIS COMPETITIVOS DE MÚSICA?

Texto: Dario Junior





Repensando momentos e fatos marcantes da minha participação em festivais de música da cidade eu chego a conclusão que nunca morri de amores por eles. Nunca participei de festivais sem ter tido a intenção de apresentar um trabalho anárquico, crítico e provocativo, desmontando o que na verdade é tudo aquilo. Já participei de inúmeros festivais desde a década de 80, no Sesc/PB, Astréa, UFPB, Colégios da cidade, Funesc e outros que não lembro, mas sempre com um olhar atento ao mecanismo cínico que circula nos bastidores de alguns desses festivaizinhos de cartas marcadas. 

Lembro-me quando apresentei a música de minha autoria intitulada “Lúmpen” no festival do Sesc, década de 90, juntamente com o grupo Tribo Ethnos de Valmir Vaz (Vant Vaz), que na época me acompanhava nos Shows fazendo intervenções com dança. Bolamos uma coreografia incrível com muitas tochas acesas alimentadas com querosene, e nesse dia nos apresentamos  causando espanto e surpresa aos que nos assistiam. 

Em outros momentos do Sesc, também década de 90, inscrevi e classifiquei uma música minha bastante crítica intitulada  “Náufragos” , acompanhado por banda com Xisto Medeiros no contrabaixo e Guegué na Bateria, a letra da música tinha frases polêmicas como estas: “Essa cara romântica da sociedade confunde-se com a cara azeda do poder..."; "A grande hipocrisia está aí a nos escutar..." ; "Beijaremos a face de Deus com lábios flamejantes de indiferença/Esse Deus vazio de cócoras pro mundo..." . Não deu outra, fomos desclassificados logo na primeira etapa!

Ainda no festival do Sesc, em 1994,  apresentamos na abertura o Show PULSANDO, com um painel de fundo contendo ex-votos, candeeiros e bonecos de luva. Eliete Matias e Eu cantávamos vestidos com roupas espelhadas do Cavalo Marinho, coroas na cabeça e com um pano escuro cobrindo a indumentária representando o luto pelas parcas políticas culturais da época (e que continuam). No decorrer do Show performático íamos retirando o luto. Paulo Ró nos acompanhou nesse show com solos de violão.





No I Festival da Canção Universitária, década de 80, precisamente 1985 eu me apresentei de Paletó, calça social e gravata, a atriz Eliete Matias com uma roupa estilo anos 20 e o saudoso Balula com um véuzinho branco na cabeça fazendo um vocal sexy na música que classifiquei intitulada “Beijo das minas de carvão”. Essa apresentação terminou de forma hilária quando no fim da música eu ergui um quadro com cartaz de papel criticando o evento e meti na cabeça do baterista motoqueiro que tocava de capacete na cabeça (ato ensaiado claro). Ele ficou com aquilo no pescoço até o final da apresentação e a confusão rolou solta! Desclassificação foi o que sobrou pra nós! 


Na verdade festivais de música de uns longos tempos para cá, perderam o sentido, passaram a não acrescentar nada a cena musical, e chega a ser um retrocesso enorme utilizar  tal estratégia  em tempos de golpe de estado, ataques a democracia e minguadas políticas culturais. Acredito que o dinheiro aplicado em festivais, eventos e gastos excessivos com músicos convidados, estariam melhor aplicados em projetos permanentes, repito, permanentes,  nas praças, nos espaços alternativos de cultura e  nos bairros das cidades, não sendo necessário premiação competitiva e nem o crivo de uma quase sempre comissão selecionadora e julgadora escolhida a dedo e que já não faz mais sentido existir nos tempos atuais. Isso eu falei com a mesma ênfase em reportagem ao jornal O Norte em 1992, logo após o meu desinteresse pelos festivais de música e o surgimento de uma postura crítica diante deles.
Em decorrência de tudo que falei, fica evidente a necessidade de se aplicar dinheiro em projetos PERMANENTES e COMUNITÁRIOS sem fins eleitoreiros e que isso contribuirá para uma formação  de plateias nos bairros e nas cidades, diversificando os espaços públicos de cultura, e valorizando um trabalho livre e democrático que hoje se encontra em declínio exatamente pela falta de entendimento, pelo descaso e pelos desacertos de anos e anos dos que se colocaram como donos da cultura. Nós artistas, também temos uma parcela de culpa nesse estado de coisas. Unidos, com projetos permanentes e discurso crítico, realizaremos sempre novas conquistas!



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terça-feira, 15 de maio de 2018

"AS TELENOVELAS SÃO BONITINHAS, TEM BONS DIRETORES, ATORES...” E DAÍ ?


Texto: Dario Junior

É aí exatamente onde se configura a isca dos tolos. Isso tudo faz parte do invólucro de um produto que precisa passar a ideia de boa aparência e boa equipe técnica mas no fundo presta-se apenas  para vender um produto falso e condicionador das ações de quem o assiste, os inveterados telespectadores, que passam até um ano, escravos dos eternos capítulos de uma história sem fim, teleguiada pelos índices de pesquisa.

Dario Junior 
Vejam bem amigas e amigos, existe um viés imbecilizador nas novelas. Algo que aos poucos vai corroendo conceitos, destruindo consciências  e impondo uma visão de mundo que interessa única e exclusivamente a própria emissora que a produz, ou seja, uma visão acrítica, conformista e quase sempre classista, impondo conceitos de uma classe dominante escravista,  consumista e fascista, que vai dopando as mentes dos incautos todos os dias, semana a semana, mês a mês, sem trégua. Os diretores dessas novelas e programas, precisam concordar com o patrão que o contratou para fazer o que determinou que  fizessem, e quase todos aceitam essa condição humilhante. 

Os atores parecem e são meros bonecos nesta configuração traçada pelos diretores e donos da empresa. Não há espaço para debates, contrapontos, pesquisa séria, criatividade... O ator estará  sempre na condição de dependência e escravidão a um texto quase sempre medíocre e esvaziado de conteúdos críticos e interessantes. Quem trabalha numa empresa medíocre precisa ter a grandeza de não ser medíocre, e isso fica para poucos. São Poucos mesmos os atores que se entendem nesse circo de horrores que se tornou as telenovelas e toda a programação das TVs. 

Para sujar ainda mais o ambiente visual e insalubre, observem atentamente nos dias de hoje as  propagandas embutidas na trama, os comerciais de falsos produtos e empresas golpistas, as interrupções de urgência para falar mal das lutas sociais e supervalorizar personagens perniciosos ao regime democrático, sem falar que quando assistimos a programação desses canais abertos e até dos pagos, precisamos ter consciência  da audiência que é dada a empresas antidemocráticas e que apoiaram e apoiam golpes de estado no País, defendendo o capital demolidor e corrosivo frente as lutas e direitos sociais conquistados com sangue e luta! Isso já seria suficiente para banir de vez do nosso convívio, as imprestáveis novelas, jornais e toda programação dos canais golpistas.
  *Os textos e fotos de Dario Junior estão licenciados pela Creative Commons. Qualquer utilização,  será possível com a autorização prévia do autor, que deverá ser consultado.

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