domingo, 23 de março de 2014

FEIRA DO MERCADO CENTRAL- JOÃO PESSOA- PB, BRASIL

Por Dario Junior

Fico encantado com a beleza que é a nossa feira do Mercado Central em João Pessoa. Cores, frutas, aromas e sensações aos montes! Não gosto de feira muito arrumadinha, tem que ter um pouco de improvisação, desleixo e criatividade! Sei que não é opinião da maioria, preservar as feiras em toda sua performance, totalmente movida pelo improviso e constantes mudanças na sua arrumação espacial, mas convenhamos, a feira faz parte da nossa cultura milenar e tem um vínculo profundo com nossas sensações e com o histórico de nossas famílias, pais, avôs, etc.

Desde muito tempo os feirantes aprenderam a arte de negociar seus produtos com liberdade e muito espaço físico para poderem ecoar suas vozes, anunciando seus produtos! As fotos aqui apresentadas demonstram isso, foram feitas com o intuito de captar a beleza e simplicidade de uma feira de verdade, com suas cores abundantes e democratização dos espaços.

    Fotos: Dario Junior

Aliás, toda e qualquer mudança estrutural que se queira fazer nas nossas feiras, como construção de boxes azulejados, pisos, divisórias, pavilhões metálicos, coberturas, etc., precisam levar em conta a arquitetura espacial primitiva praticada há séculos pelos nossos feirantes e a forma artística, criativa, com que aprenderam a dispor os produtos para atrair o cliente e consequentemente aumentar as vendas! É um crime cultural querer transformar o espaço das nossas feiras, em horrorosos supermercados ou shoppings compartimentados. 

Nessa visita que fiz para fotografar a feira, conversei com um feirante que demonstrou uma grande insatisfação com o espaço destinado ao seu comércio de frutas e verduras, logo após os projetos de reformas implementados nas feiras da capital. Constatei a precária distribuição dos espaços, com pouca iluminação, ventilação sofrível e um  amontoado desordenado de frutas e verduras nos boxes destinados a cada feirante, que  mais pareciam cubículos apertados  destinados a qualquer outro tipo de mercadoria, menos frutas e verduras.


Acredito que as mudanças propostas por Arquitetos e Engenheiros, na organização estrutural das nossas feiras, precisam estar bastante embasadas em pesquisas e informações atualizadas sobre as características de cada uma. Observa- se que as quitandas externas e ao ar livre, construídas normalmente de madeira e com guarda sois e tendas, são ideais para a mobilidade exigida aos visitantes e aos próprios feirantes. Nesse  tipo de arrumação simples, existe a vantagem de se ter a luz natural como aliada e a ventilação farta das ruas, facilitando assim o fluxo permanente de pessoas.


Meu Pai, hoje com 85 anos, é um entusiasta das feiras. Percebo, quando vou a feira com ele, o quanto demonstra sua satisfação e prazer nos diálogos com os vendedores e feirantes, acostumados a agradar o cliente com ofertas tentadoras e conversas cheias de entusiasmo. Constato um  rejuvenescimento momentâneo, nos dias em que freqüento a feira com meu pai. Ele fica alegre e cheio de vida, parecendo um menino curioso perambulando veloz pelos labirintos coloridos de frutas e folhas formados aleatoriamente e que só as feiras de verdade possuem...


As feiras livres iniciaram desde os tempos dos Fenícios, antes de Cristo, ressurgiram na Grécia antiga e permaneceram por séculos e séculos até os nossos dias. Aconteciam sempre nos períodos de descanso do trabalho ou em dias livres e mobilizavam uma quantidade grande de pessoas, que naquela época, deveriam utilizar o escambo para as transações, ou seja, troca de produtos. Como vemos, existe uma cultura milenar permeando o dia a dia das nossas feiras livres. Percebemos os traços dessa cultura na forma parecida com que os feirantes distribuem seus produtos e artigos, em feiras do mundo inteiro; no jeito descontraído e cheios de improviso identificado nos gestos e vozes dos vendedores e na famosa "pechincha", tradicional das feiras de verdade! Os produtos quase sempre pendurados nas barracas e desajeitadamente organizados é outro traço de similaridade entre feiras de todo o mundo.


Dentre os muitos benefícios que a feira traz para a nossa comunidade eu diria que um dos mais importantes é a forma democrática com que ela acontece e a concorrência saudável entre os vários tipos de negócios ali existentes. Isso com certeza reflete no preço dos produtos, sem contar que a qualidade dos mesmos é superior aos vendidos em outros estabelecimentos mais requintados  e fomentam uma maior sintonia com os produtores locais. 

Proponho aqui uma maior valorização ao trabalho do feirante, muitas vezes um comerciante nato, nascido de pai e mãe feirantes e que tem paixão pelo seu trabalho. O feirante precisa ter seus direitos trabalhistas reconhecidos para no futuro, poder se aposentar com tranquilidade e deixar os seus filhos tomando conta do negócio. O estado precisa estar atento a esse problema trabalhista dos feirantes e possibilitar formas menos burocráticas e específicas de inseri-lo e ampará-lo pelas leis. O caminho correto é o diálogo com as lideranças de cada feira, em seus respectivos bairros e deixar claro que o estado não quer apenas recolher mais imposto agregando mais contribuintes, e sim propiciar segurança e tranqüilidade a este trabalhador importante para nossa comunidade e fundamental para a sobrevivência das nossas Feiras!



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